Reportagem

Artigo do PM sobre a Ucrânia: 6 de março de 2022

Artigo do Primeiro Ministro Boris Johnson sobre a Ucrânia.

Prime Minister, Boris Johnson with The Ukrainian Ambassador to the Ukraine Vadym Prystaiko.

Precisamos fazer mais pela Ucrânia.

Durante a última semana, diante das cenas de revirar o estômago que vimos na Ucrânia, a unidade ocidental tem se mostrado imponente e encorajadora. Sei, por minhas conversas quase diárias com o Presidente Zelensky, que isso tem proporcionado aos ucranianos algum conforto em seu momento de necessidade.

Nunca antes em minha vida vi uma crise internacional onde a linha entre o certo e o errado fosse tão acentuada, enquanto a máquina de guerra russa despeja sua fúria sobre uma democracia honrada. O ataque imprudente da Rússia à usina nuclear de Zaporizhzhia nos lembra o quão graves são os riscos para todos. Milhões de pessoas estão fugindo da violência em direção a um futuro incerto.

O Presidente Biden tem demonstrado grande liderança, consultando e convocando aliados, expondo a mentira de que o compromisso dos Estados Unidos com a Europa foi de alguma forma enfraquecido. A União Europeia empreendeu um esforço extraordinário para alinhar-se às severas sanções contra a Rússia. Dezenas de países europeus estão enviando equipamentos de defesa para as forças armadas da Ucrânia. Mas será que já fizemos o suficiente pela Ucrânia? A resposta sincera é não.

O ato de agressão de Putin deve falhar e ser visto como um fracasso. Não devemos permitir que ninguém no Kremlin saia impune ao deturpar nossas intenções de encontrar uma justificativa concreta para sua escolha pela guerra. Isto não é um conflito da OTAN e tampouco se tornará um. Nenhum aliado enviou tropas de combate para a Ucrânia. Não temos qualquer hostilidade contra o povo russo e não temos qualquer desejo de confrontar uma grande nação, uma potência mundial e um membro fundador das Nações Unidas. Sentimos muito pela decisão de enviar jovens russos inocentes para uma guerra sangrenta e fútil.

A verdade é que a Ucrânia não tinha qualquer perspectiva concreta de se tornar membro da OTAN no futuro próximo - e estávamos dispostos a atender as preocupações sobre segurança da Rússia através de negociações. Eu e muitos outros líderes do Ocidente conversamos com o Presidente Putin para entender seu ponto de vista. O Reino Unido chegou a enviar emissários para Moscou antes da invasão russa, para negociar diretamente com o Ministro da Defesa, Gen. Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior Geral, Gen. Valery Gerasimov, que estão no comando desta terrível campanha.

Está claro agora que a diplomacia nunca foi uma escolha. Mas é justamente por conta de nosso respeito pela Rússia que consideramos as ações do regime de Putin tão inconcebíveis. Ele está tentando destruir a própria base das relações internacionais e da Carta das Nações Unidas: o direito das nações de decidir seu próprio futuro, livre de agressões e do medo de invasões. Sua agressão à Ucrânia começou com um pretexto confuso em uma clara violação do direito internacional. Agora, está se afundando mais ainda em uma sórdida campanha de crimes de guerra e de inadmissível violência contra civis.

Embora não possa ser comparado com o ataque à Ucrânia, nós britânicos conhecemos muito bem a crueldade do Presidente Putin; há quatro anos, sofremos com o desfecho do uso de armas químicas por parte de seus agentes para assassinar pessoas em Salisbury, no ano de 2018, sob suas ordens - e nossos aliados estiveram ao nosso lado. Em nosso estudo de defesa e política externa publicado há um ano, alertamos que a Rússia segue como a maior ameaça de segurança e anunciamos o maior aumento nos gastos em defesa desde o final da Guerra Fria.

Nós também alertamos que o mundo estava mudando para pior, entrando em um período de competição em que os estados autoritários iriam pôr em teste o valor do Ocidente em todos os seus domínios. O acordo do ano passado entre a Grã-Bretanha, América e Austrália, sobre a construção de submarinos nucleares para a marinha australiana, demonstrou nossa determinação mútua diante dos desafios no Indo-Pacífico. Mas devemos restaurar uma contenção eficaz na Europa onde, por muito tempo, o próprio sucesso da OTAN e da garantia de segurança da América tem gerado comodismo.

Falhamos em aprender as lições sobre a conduta russa que nos trouxeram a este momento. Ninguém poderá dizer que não fomos avisados: vimos o que a Rússia fez na Geórgia em 2008, na Ucrânia em 2014 e até mesmo nas ruas da cidade britânica de Salisbury. E sei por conversas com meus colegas, em visitas recentes à Polônia e à Estônia, o quão fortemente eles sentem esta ameaça.

Já não é o bastante manifestar banalidades calorosas sobre a ordem internacional estabelecida por regras. Precisamos defendê-la ativamente, frente a uma tentativa constante de reformular as regras por meio da força e de outras ferramentas, como a coerção econômica. O que acontece na Europa terá implicações profundas no mundo todo.

Ficamos gratos por ver mais nações começando a compreender esta dura realidade. Em janeiro, o Reino Unido estava entre os poucos países europeus enviando ajuda defensiva para a Ucrânia. Agora, são mais de 25 países fazendo parte desse esforço. Os gastos em defesa vêm subindo, mas ainda levará tempo para que isso se converta em capacidade.

Estes avanços são bem-vindos, mas não são suficientes por si só para salvar a Ucrânia, nem para manter viva a chamada liberdade. A Rússia tem uma força prepotente e nenhum respeito aparente pelas leis de guerra. Precisamos estar prontos para os dias ainda mais sombrios que virão.

Por isso, devemos começar um plano de seis pontos para a Ucrânia, a partir de hoje.

Primeiro, precisamos mobilizar a criação de uma aliança humanitária internacional. Na segunda-feira, irei me reunir com os líderes do Canadá e dos Países Baixos em Londres, onde iremos discutir sobre a criação de uma aliança que seja mais ampla possível, para expor as atrocidades que tem acontecido na Ucrânia. Na terça-feira, vou receber os líderes da Polônia, Eslováquia, Hungria e República Tcheca, que agora estão na linha de frente de uma crise de refugiados. O Reino Unido tem 1.000 tropas de prontidão para operações humanitárias, além de oferecer £220 milhões de auxílio. Devemos todos trabalhar juntos em prol de um cessar-fogo imediato, permitindo a passagem segura de civis, além de alimentos e suprimentos médicos.

Segundo, precisamos fazer mais para ajudar a Ucrânia a se defender. Cada vez mais nações estão dispostas a fornecer equipamento de defesa. Devemos agir rapidamente, coordenando nossos esforços para apoiar o governo legítimo da Ucrânia.

Terceiro, devemos intensificar a pressão econômica sobre o regime de Putin. Devemos ir mais longe nas sanções econômicas, expulsando todos os bancos russos da SWIFT. Devemos ir atrás dos oligarcas, como o Reino Unido já tem feito - sancionando as mais de 300 elites e entidades, incluindo o próprio Putin, dando a nossas autoridades legais poderes sem precedentes para desmantelar a fachada de dinheiro sujo russo em Londres. Mas estas medidas serão insuficientes até que a Europa comece a se desabituar do petróleo e do gás russos que a máquina de guerra de Putin produz.

Quarto, não importa o tempo que leve, devemos evitar qualquer normalização gradual do que a Rússia faz na Ucrânia. A lição aprendida com a invasão russa da Geórgia em 2008 e com a anexação da Crimeia em 2014 é: aceitar os resultados da agressão russa apenas incentiva mais agressão. Não podemos permitir que o Kremlin arranque pedaços de um país independente, infligindo imenso sofrimento humano para, logo em seguida, ser admitido de volta ao rebanho.

Quinto, devemos estar sempre abertos à diplomacia e à diminuição da violência, desde que o governo legítimo da Ucrânia tenha plena atuação em qualquer possível acordo. Não pode haver uma nova Ialta formada à frente do povo da Ucrânia por poderes externos.

Sexto, devemos agir imediatamente para reforçar a segurança euro-atlântica. Isto inclui reforçar o flanco oriental da OTAN, mas também apoiar os países europeus não pertencentes à OTAN que estão sujeitos ao mesmo roteiro do Kremlin, como a Moldávia, a Geórgia e as nações dos Bálcãs Ocidentais. E aqueles que apoiam ou permitem a agressão russa, como a Bielorrússia, estarão sujeitos a sanções máximas.

Os ucranianos têm bravamente defendido seu país. É a coragem deles que uniu a comunidade internacional. Não podemos abandoná-los.

Publicado a 6 March 2022