Discurso

Discurso da PM na Cidade do Cabo: 28 de agosto de 2018

A Primeira-Ministra Theresa May fala sobre a criação de uma nova parceria entre o Reino Unido e a África no interesse de ambas as partes.

PM May

Bom dia a todos e muito obrigada por terem vindo juntar-se a nós hoje. É um grande prazer estar aqui na Cidade do Cabo, uma cidade cujo passado recente lhe confere uma ressonância especial para muitos em todo o mundo e que simboliza a transformação vivida pela África do Sul.

Na baía fica Robben Island, onde durante tanto tempo muitos estiveram injustamente presos por sonharem com um país no qual a cor da sua pele não afetaria os seus direitos e oportunidades.

O mais importante de entre eles foi, naturalmente, Nelson Mandela. Quando o mundo assinalou o 100º aniversário do seu nascimento no início deste ano, foi inaugurado um monumento ao grande homem em Westminster Abbey. Ali se encontra junto a homenagens a reis e rainhas, poetas e cientistas que moldaram a história da minha nação – um reconhecimento apropriado do impacto duradouro que Mandela teve no mundo.

A caminhada até à liberdade de Mandela – e a da África do Sul – foi longa e árdua. Mas há 28 anos, a pouco mais de um quilómetro e meio desta Câmara Municipal da Cidade do Cabo, falou pela primeira vez após a sua libertação de décadas na prisão.

Quatro anos depois, na Grand Parade, o recém-empossado presidente da África do Sul falou da sua eleição, não como uma vitória do partido, mas do povo. Do poder da democracia e da necessidade de unidade, da igualdade e dos direitos universais.

Falou sobre a necessidade de transformar não só a cultura e a política da África do Sul, como também a sua economia. Do seu desejo de “transformar a África do Sul de um país no qual a maioria vivia com pouca esperança, num país no qual todos possam viver e trabalhar com dignidade, com um sentido de autoestima e confiança no futuro … construindo uma vida melhor de oportunidades, liberdade e prosperidade.” Era uma visão ousada, partilhada não só por milhões de sul-africanos mas por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Pessoas incluindo Kofi Annan. O seu percurso improvável a partir dos subúrbios do Gana até à liderança global seguiu um rumo muito diferente do de Mandela. Contudo, tal como o vosso antigo presidente, o impacto, a influência e os valores de Annan propagaram-se muito para além das fronteiras da sua amada pátria. E, tal como Mandela, o mundo tornou-se num lugar mais pobre devido à sua morte – mas muito mais rico devido ao seu legado.

As histórias da vida destes dois grandes homens abrangem os altos e baixos da história. Demonstram o que pode ser alcançado no decorrer de uma vida. Mas também que o progresso nunca pode ser dado por adquirido – a luta para proteger os nossos ganhos é constante.

Mandela nasceu em 1918 com o mundo à beira da paz, no final de uma guerra destinada a acabar com todas as guerras. Mas quando Annan nasceu, apenas vinte anos mais tarde, esses sonhos de uma paz duradoura estavam prestes a ser novamente destruídos, com a perda de milhões de vidas, incluindo muitas deste continente.

Foi no rescaldo dessa devastação que a ONU – a organização que meio século mais tarde Annan iria liderar – foi fundada. Apesar de falsas partidas e erros pelo caminho, as instituições globais e a cooperação estabelecidas durante esse período proporcionaram grandes benefícios ao desenvolvimento.

Foi, na mesma altura, que os movimentos de independência de uma geração de novas nações assumiram uma urgência renovada. As pessoas em todo o mundo conquistaram o direito à autodeterminação, foram escritas constituições e nasceram países.

E a adoção dos mercados livres e do livre comércio, que se aceleraram ainda mais com o final da Guerra Fria, atuou como o maior agente do progresso humano coletivo que o mundo jamais viu. Nos países que adotaram com sucesso as economias de mercado adequadamente regulamentadas, a expectativa de vida aumentou e a mortalidade infantil caiu. A pobreza absoluta diminuiu e o rendimento disponível aumentou. O acesso à educação alargou-se e as taxas de analfabetismo caíram drasticamente. E os inovadores desenvolveram tecnologia que transformou vidas.

O progresso que fizemos no último século é notável. As oportunidades para a próxima geração ainda mais. Mas, para cumprir essa promessa, temos de identificar novos desafios.

Enquanto a guerra e os conflitos baseados no estado diminuíram, novas ameaças substituíram-nos. Nos últimos cinco anos, terroristas mataram cerca de 20.000 pessoas em África – do cerco ao centro comercial Westgate de Nairobi em 2013 ao horrível ataque com um camião-bomba em Mogadíscio no ano passado aos ataques da Al-Qaeda no Burkina Faso em março. Seja na Europa ou em África, agentes não estatais estão a ameaçar as nossas vidas e a radicalizar os nossos povos.

E, hoje em dia, a atividade estatal maligna está a aumentar – desde ataques cibernéticos às infraestruturas e às instituições nacionais até à utilização de armas químicas nas ruas do Reino Unido e da Síria. Embora o comércio livre e a globalização tenham trazido enormes benefícios, estes não se têm feito sentir por todos, e demasiados dos nossos cidadãos temem ser deixados para trás. Desde a grande Crise Financeira de 2008 até à chegada da inteligência artificial em substituição da mão-de-obra humana, muitas pessoas têm vindo a questionar o modelo do desenvolvimento económico que procuramos defender. E ao enfrentarmos essas questões preocupantes, a capacidade dos governos, antigos e novos, de fornecer as respostas está a ser desafiada.

Para alguns, a solução está em procurar travar ou reverter a mudança. Pondo em causa as instituições de cooperação global, reconstruindo barreiras ao comércio, considerando a concorrência global como um jogo de soma zero.

Não concordo.

Porque estes não são desafios enfrentados por uma única nação sozinha.

A ideologia que inspira os cruéis ataques terroristas não respeita as fronteiras. Um ataque de armas químicas não só prejudica as suas vítimas como enfraquece as regras que nos protegem de tal comportamento. Num mundo mais conectado, temos todos de lidar com as consequências, para o bem e para o mal, do aumento da mobilidade – não apenas de pessoas através dos fluxos de migração, mas também do dinheiro, dos dados, da ideologia. E devemos reconhecer que a concorrência e a cooperação não são incompatíveis. Podem reforçar-se mutuamente.

Portanto está na hora de as nações do mundo se unirem. Cooperarem. Considerarem a concorrência internacional como um processo do qual ambos os lados podem beneficiar. Colaborarem como parceiros, partilhando as suas competências, a sua experiência e os seus recursos para lidar com os desafios que enfrentamos, conter e direcionar as forças que moldam o mundo e proporcionar a prosperidade, a segurança e o sucesso de todos os nossos povos.

Esta semana vou visitar três países – a África do Sul, a Nigéria e o Quénia – que considero parceiros-chave em alcançar esta meta. Com prósperas democracias, fortes laços internacionais, inclusive por via da Commonwealth, e economias em rápida mudança, estes países são típicos da África do século XXI. Uma África bem diferente dos estereótipos que dominaram os séculos anteriores e nos quais algumas pessoas ainda hoje acreditam.

Em 2018, cinco das economias de crescimento mais rápido são africanas. É bem possível que o PIB total do continente duplique entre 2015 e 2030. Até 2050, um quarto da população mundial e um quarto dos consumidores mundiais viverão aqui.

Desde o Cabo Ocidental ao Mediterrâneo chegam relatos de um aumento de estabilidade, crescimento, inovação e esperança.

A África do Sul, durante tanto tempo afetada pelos males do Apartheid, é agora um país livre, democrático e a sede de uma das maiores economias do continente.

Na Costa do Marfim, as forças da paz das Nações Unidas regressaram a casa e o PIB está a crescer três vezes mais rapidamente do que na Europa.

E a Etiópia – para uma geração de britânicos frequentemente associada apenas à fome – está a tornar-se rapidamente numa nação industrializada, criando um grande número de empregos e estabelecendo-se como um destino global para o investimento.

No entanto, numa situação conhecida de nações em todo o mundo, o progresso não tem sido uniforme. Além das democracias emergentes e das economias em crescimento, a África abriga a maioria dos estados frágeis do mundo e um quarto das pessoas deslocadas do mundo.

Grupos extremistas como o Boko Haram e al-Shabab estão a matar milhares de pessoas. A economia marítima da África – três vezes o tamanho da sua massa terrestre – está sob a ameaça dos resíduos de plástico e de outro tipo de poluição.

A maioria das pessoas mais pobres do mundo é africana. E o aumento da riqueza trouxe uma crescente desigualdade, tanto entre as nações como no seu seio. Por exemplo, grande parte da Nigéria está a prosperar, com muitos indivíduos a usufruir dos frutos de uma economia ressurgente. No entanto, 87 milhões de nigerianos vivem com menos de $1,90 por dia – sendo o país com mais pessoas muito pobres do que qualquer outra nação do mundo.

Conseguir não só o crescimento mas o crescimento inclusivo é um desafio enfrentado pelos governos do Reino Unido, Europa, América do Norte e além. E, à medida que as economias africanas se tornam mais bem-sucedidas, esta é uma questão que está a ser defrontada também aqui.

Porque, nos próximos anos, a mudança demográfica produzirá mais desafios económicos e oportunidades para este continente. Antes da minha chegada aqui esta manhã, visitei a escola secundária ID Mkize em Gugulethu. Os adolescentes que conheci foram uma inspiração, cheios de ideias e entusiasmo pelo seu próprio futuro e cheios de orgulho pelo futuro do seu país e do seu continente.

É uma visão que partilham com tantos africanos, 60 por cento dos quais com menos de 25 anos de idade. Uma população tão nova representa um nível fenomenal de capital e potencial humano. Com a sua inovação, dinamismo e criatividade, os jovens de África poderiam não só enriquecer este continente como a economia mundial e a sociedade em geral.

Mas para tirar pleno partido desta promessa, esta deve ser devidamente aproveitada. Entre agora e 2035, as nações africanas terão de criar anualmente 18 milhões de empregos novos, só para acompanhar o rápido crescimento da população. Isso representa quase 50.000 empregos por dia, simplesmente para manter o emprego ao nível atual.

Isso seria um enorme desafio para qualquer continente, é ainda mais para um continente no qual o crescimento económico é ainda frágil e onde os mercados ainda se encontram em desenvolvimento. E é revelador da necessidade de redobrar os nossos esforços para garantir que as forças que moldam o nosso mundo produzam resultados para todos os nossos povos. Porque os desafios que a África enfrenta não são só da África. É do interesse do mundo verificar que esses empregos são criados, combater as causas e os sintomas do extremismo e da instabilidade, lidar com os fluxos migratórios e fomentar o crescimento limpo.

Se não o fizermos, os impactos económicos e ambientais atingirão rapidamente todos os cantos do nosso mundo ligado em rede. E os impactos humanos – desde uma perda de confiança nos mercados livres e na democracia como a melhor forma de garantir o crescimento global e os direitos humanos, a um maior conflito e a um aumento da suscetibilidade ao extremismo – serão igualmente globais.

É por isso que quero criar uma nova parceria entre o Reino Unido e os nossos amigos em África, construída em torno da nossa prosperidade e segurança partilhadas.

Como Primeira-Ministra de uma nação comercial, cujo sucesso depende dos mercados globais, quero ver economias fortes africanas com as quais as empresas britânicas possam fazer negócios de uma forma livre e justa. Seja através da criação de novos clientes para os exportadores britânicos ou de oportunidades para os investidores britânicos, a nossa economia global integrada significa que economias africanas saudáveis são uma boa notícia tanto para o povo britânico como para o povo africano.

É por isso que tenho imenso prazer em confirmar hoje os planos para transpor o Acordo de Parceria Económica da União Europeia com a União Aduaneira da África Austral e Moçambique, logo que o acordo da UE deixe de se aplicar ao Reino Unido.

Como uma Primeira-Ministra que acredita tanto nos mercados livres como nas nações e empresas que atuam em conformidade com normas e princípios de conduta bem estabelecidos, quero demonstrar aos jovens africanos que o seu futuro mais promissor reside num setor privado livre e próspero. Um futuro impulsionado e sustentado pela transparência, por elevados padrões, pelo estado de direito e pela justiça. Apenas nessas circunstâncias pode a inovação ser realmente recompensada, o potencial dos indivíduos libertado e as sociedades receberem as oportunidades que desejam, precisam e merecem.

E como Primeira-Ministra de uma nação global, estou bem ciente de que a nossa segurança doméstica está dependente da estabilidade em todo o mundo e não só da nossa vizinhança imediata. Desde a redução dos promotores da migração ilegal à recusa de refúgio aos terroristas que atingirão as nossas costas, em 2018 a segurança africana e a segurança britânica encontram-se indissoluvelmente ligadas e mutuamente dependentes. É uma das razões pelas quais continuo a apoiar os pedidos de uma presença africana permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Há, naturalmente, um elemento de interesse próprio nacional no que estou a propor. Quero fazer o que está certo para o meu país, tal como o Presidente Ramaphosa quer o melhor para a África do Sul.

E não vejo qualquer distinção entre o interesse próprio nacional e a cooperação global. Pois quando o sistema multilateral funciona, fá-lo em nome dos estados-nação e do nosso povo, permitindo-nos aproveitar o melhor que cada um tem para oferecer, impedindo que os grandes dominem os pequenos, e reforçando a justiça, a transparência e o estado de direito.

Não se trata de ampliar a influência geopolítica ou de criar relacionamentos dependentes desequilibrados. Trata-se de o Reino Unido procurar colaborar mais estreitamente com mais de 50 nações de África para garantir a nossa segurança e prosperidade partilhadas, e assim reforçar um sistema global que seja capaz de proporcionar benefícios duradouros para todos.

No cerne dessa parceria deverá estar a criação de emprego. Todos os líderes africanos, com quem falo, identificam o emprego como a principal exigência do seu povo e a sua mais importante prioridade política. De facto, a criação de emprego está também colocada no centro da minha ordem do dia no Reino Unido.
É o setor privado que constitui a chave para fomentar o crescimento que proporcionará esse emprego – transformando os nossos mercados de trabalho e libertando o espírito empreendedor. E o Reino Unido possui as empresas que podem investir e negociar com a África para fazer precisamente isso.

Contudo, por vários motivos, o setor privado ainda não conseguiu proporcionar os postos de trabalho e o investimento de que muitos países africanos precisam.

Por isso quero colocar o nosso orçamento de desenvolvimento e experiência no centro da nossa parceria como parte de uma nova abordagem ambiciosa – e usá-lo para apoiar o setor privado a criar raízes e a crescer.

E hoje posso anunciar uma nova ambição: até 2022, quero que o Reino Unido seja o principal investidor dos países do G7 em África, com as empresas do setor privado da Grã-Bretanha a assumir a liderança no investimento de milhares de milhões que verão as economias africanas crescer aos biliões.

Dispomos das ferramentas para o fazer. A City de Londres faz com que o Reino Unido seja o centro global inigualável para o investimento internacional, com mais de 8 biliões de libras esterlinas em ativos sob gestão. Somos um centro de excelência da ciência e da tecnologia bem como da defesa, diplomacia e desenvolvimento de craveira mundial. Somos um parceiro de confiança e confiável: o nosso sistema jurídico é incomparável, e tem algumas das mais rígidas leis anticorrupção do mundo. Quando as nossas empresas ficam aquém das expectativas, têm de prestar contas nos tribunais, se necessário. E o nosso empenho em libertar e abrir o comércio ao abrigo da ordem baseada em regras significa que os nossos parceiros internacionais sabem que serão tratados de forma justa.

Por isso, um foco impulsionador do nosso programa de desenvolvimento será garantir que os governos da África possuam o ambiente, conhecimentos, instituições e apoio para atrair investimentos sustentáveis de longo prazo no futuro da África e dos africanos.

E para ajudar a promover esses investimentos, posso hoje anunciar um programa adicional de investimento do Reino Unido de 4 mil milhões de libras esterlinas nas economias africanas que abrirá caminho para, no mínimo, outros 4 mil milhões de libras de financiamento do setor privado.

Isso inclui, pela primeira vez, uma ambição da Development Finance Institution [Instituição Financeira de Desenvolvimento] do Reino Unido, a CDC, de investir 3,5 mil milhões de libras esterlinas nos países africanos nos próximos quatro anos. E no próximo ano, Londres acolherá uma Cimeira de Investimento em África, que ajudará os investidores e os governos africanos a forjar laços mais estreitos entre si. E porque os mercados e as economias precisam tanto de pessoas como de capital, partilharemos também a nossa experiência – apoiando os países parceiros a desenvolver os seus ambientes e instituições comerciais, a integrar-se nas cadeias de valor globais, a desenvolver relações com os investidores e a lutar contra os entraves ao crescimento.

Para fazê-lo, expandiremos radicalmente a presença do governo do Reino Unido em África, abrindo novas missões e trazendo especialistas comerciais, especialistas de investimento e outros especialistas em política.

Continuaremos a investir no capital humano que sustenta a prosperidade futura, assegurando que os jovens africanos, homens e mulheres, tenham acesso à educação, aos cuidados de saúde e às competências de qualidade, de que necessitam para realizarem o seu potencial.

E usaremos a nossa influência e posição global para incentivar outras nações desenvolvidas e as instituições globais, das quais somos um membro líder, a adotar a mesma abordagem.

A capacidade para o fazer – trazer para a mesa muito mais do que apenas o financiamento do governo – é o que distingue o programa de desenvolvimento do Reino Unido como sendo tão eficaz.

A ajuda é uma parte crucial da equação mas é acompanhada pela nossa capacidade de alavancar enormes montantes de investimento do setor privado a partir dos nossos mercados de capitais. Pelos nossos serviços profissionais de classe mundial. Pela nossa experiência incomparável nos serviços financeiros e na educação. Pelo nosso investimento na ciência e investigação e pela experiência de algumas das empresas mais inovadoras do mundo.

E tudo isto é sustentado pelo nosso respeitado sistema jurídico, padrões regulamentares e valores: os investidores britânicos respeitam as práticas éticas, cumprem as leis locais, contribuem para as economias locais e desenvolvem uma capacidade local a longo prazo.

Assim, embora não possamos competir com o poder económico de alguns governos estrangeiros que investem em África, podemos no entanto oferecer o investimento a longo prazo da mais elevada qualidade e amplitude. Algo que proporcione mais benefícios aos africanos por mais tempo e que pode apenas ser conseguido quando o governo e o setor privado trabalham em conjunto.

Ao mesmo tempo, o investimento não pode ser atraído nem o crescimento alcançado na ausência da segurança e da estabilidade que esta traz. Assim, necessitamos também de direcionar a nossa ajuda ao desenvolvimento para estabelecer essa estabilidade e lutar contra os fatores promotores da fragilidade. Até 2030, 80 por cento das pessoas extremamente pobres irão viver em estados frágeis. Mesmo nos países considerados relativamente estáveis e prósperos, continuam a existir bolsas de fragilidade.

O Reino Unido já está a prestar apoio aos governos africanos que estão a enfrentar esse desafio. As tropas nigerianas na linha de frente contra o Boko Haram receberam treino especializado da Grã-Bretanha. As operações de contraterrorismo no Mali estão ser apoiadas por helicópteros Chinook britânicos. As tropas britânicas no Quénia treinaram as forças da paz da União Africana que rumou à Somália, trabalhando ao mesmo tempo com os parceiros internacionais para reformar as forças de segurança da Somália a longo prazo.

As autoridades responsáveis pela aplicação da lei no Reino Unido trabalham em estreita colaboração com os seus homólogos em toda a África para lutar contra a ameaça desestabilizadora do crime organizado, desde os traficantes de pessoas aos traficantes de droga.

Mas a resposta aos desafios de segurança não é puramente militar ou operacional – é também política. A nova parceria que estou a propor significa colaborar com os líderes africanos que estão a fomentar o progresso, enfrentando os desafios políticos e os interesses pessoais de modo a assegurar que os benefícios fluam para todos os seus povos. E significa erigir fortes instituições e ajudar a desenvolver a confiança entre essas instituições e as pessoas que são governadas por elas.

Porque é dessas instituições – os blocos de construção dos estados-nação – que, no final de contas, fluem todos os benefícios que hoje descrevi. Sem a estabilidade e a certeza fornecidas por sistemas jurídicos fiáveis, contratos vinculativos, padrões reconhecidos etc., é impossível para as empresas responsáveis do setor privado efetuarem investimentos de longo prazo. É impossível para as economias criarem um número suficiente de empregos qualificados. E o crescimento não pode ser justo e inclusivo se os mercados, quer sejam nacionais ou internacionais, não forem regidos por regras transparentes e eficazes que sejam ativamente aplicadas.

Isso é especialmente importante na luta contra a corrupção e o dinheiro sujo, ambos os quais podem vir a afastar o desenvolvimento do seu caminho, minando o estado de direito e desviando o dinheiro para fora da economia. É por isso que, ainda esta semana, o Reino Unido assinará um novo acordo para repatriar enormes quantias de dinheiro que foram ilegalmente retiradas do Quénia – permitindo que esse dinheiro seja devolvido aos seus legítimos proprietários e investido no futuro do seu país.

E temos também de apoiar os governos, enquanto trabalham para assegurar que o desenvolvimento não seja dificultado por outras ameaças. Isso passa por reforçar a resistência contra as alterações climáticas e fazer face aos desafios demográficos, mediante a capacitação das mulheres e das raparigas com o acesso ao planeamento familiar moderno, voluntário e seguro, permitindo o acesso à educação e às competências. Ao estabelecer esta nova parceria com África, estou a fazer uma proposta mais ampla sobre a forma como iremos utilizar a nossa ajuda ao desenvolvimento a nível mundial, liderada pela minha excelente Ministra do Desenvolvimento Internacional, Penny Mordaunt.

E ao reorientarmos o nosso programa de desenvolvimento, quero ser clara: a ajuda externa funciona. Desde 2015, a ajuda do Reino Unido em todo o mundo serviu para que mais de 37 milhões de crianças fossem vacinadas, salvando mais de 600.000 vidas. Ajudámos quase 11,5 milhões de jovens a obter uma educação e demos a mais de 40 milhões de pessoas acesso a água potável ou a saneamento adequado. Enquanto estou aqui hoje, pessoas da República Democrata do Congo estão a ser tratadas com uma vacina para o Ébola desenvolvida com o apoio do Reino Unido.

O papel do Reino Unido no desenvolvimento internacional é algo de que estou muito orgulhosa, tal como considero que o país como um todo deveria estar. Continuaremos a ser um promotor global do investimentoem matéria de ajuda, auxílio humanitário e desenvolvimento internacional. Continuaremos o nosso compromisso de gastar 0,7 por cento do rendimento nacional bruto na ajuda oficial ao desenvolvimento. E não vacilaremos nos nossos esforços para realizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Mas também não tenho vergonha da necessidade de assegurar que o nosso programa de ajuda funcione no Reino Unido. Por isso, hoje, comprometo-me a que as nossas despesas de desenvolvimento não só combatam a pobreza extrema como façam frente aos desafios globais e apoiem os nossos próprios interesses nacionais, o que assegurará que o nosso investimento na ajuda ao desenvolvimento nos beneficie a todos e que esteja totalmente em conformidade com as nossas prioridades mais amplas de segurança nacional.

Na prática, isso significará ajudar os mercados fronteiriços em rápido crescimento, tal como a Costa de Marfim e o Senegal, a sustentar o seu progresso de desenvolvimento e a criar oportunidades para os investidores, incluindo as empresas britânicas.

Significará também o apoio aos países e às sociedades na linha da frente da instabilidade em todas as suas formas. Portanto investiremos mais em países como o Mali, o Chade e o Níger, que estão a travar uma batalha contra o terrorismo no Sahel – incluindo através da abertura de novas embaixadas no Níger e no Chade e tendo uma presença muito maior no Mali.

Faremos mais em relação a países como a Jordânia, que estão a enfrentar a ameaça da dispersão do Daesh e o fardo do trágico conflito na sua fronteira com a Síria, e reforçaremos as democracias que estão a enfrentar ameaças de outros Estados, tal como fizemos recentemente através da nossa cimeira dos Balcãs Ocidentais.

Utilizaremos o nosso programa de ajuda para apoiar um importante novo combate ao financiamento ilícito e ao crime organizado, colocando especialistas em centros financeiros por todo o mundo e aumentando o nosso trabalho com os agentes da aplicação da lei para devolver muitos dos milhares de milhões de dólares que foram roubados de países de África e de outros lugares.

E investiremos mais recursos para combater a migração ilegal, a escravidão moderna e o tráfico de pessoas.

Essas novas prioridades representarão uma mudança estratégica fundamental na forma como utilizamos o nosso programa de ajuda, colocando o desenvolvimento no centro da nossa agenda internacional – não só protegendo e apoiando as pessoas mais vulneráveis como também reforçando os estados ameaçados, moldando uma economia global que beneficie todos, e desenvolvendo a cooperação a nível mundial no apoio ao sistema baseado em regras.

Utilizaremos os nossos planos de despesas futuras para estabelecer estas propostas com mais pormenor. Nas verdadeiras parcerias não se trata de uma parte dar ordens à outra, mas de Estados, governos, empresas e indivíduos trabalharem em conjunto de uma forma responsável para alcançar objetivos comuns. Proporcionar um tal êxito a longo prazo não será rápido nem fácil. Mas estou empenhada em África e empenhada em utilizar todas as alavancas do governo britânico para apoiar as parcerias e as ideias que trarão benefícios às gerações vindouras.

Quando o Presidente Mandela se dirigiu às multidões da Cidade do Cabo em 1994, falou não só do enorme desafio que a África do Sul tinha de enfrentar, como também da sua certeza de que o povo deste país estaria à altura de o enfrentar.

Enquanto o mundo mais uma vez enfrenta grandes incertezas, estou certa de que todos os nossos povos conseguirão estar à altura do momento. Que, juntos, seremos bem-sucedidos em passar do desafio à oportunidade. E que – como amigos, parceiros e iguais – conseguiremos assegurar um futuro mais próspero para todos os nossos povos.

Publicado a 28 August 2018
Última atualização a 3 September 2018 + show all updates
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