Diálogo x Confronto
Alex Ellis, Embaixador do Reino Unido no Brasil, escreve sobre a crise na Ucrânia e o referendo da Crimeia
Na véspera da votação do referendo que irá perguntar a população da Crimeia se aceita fazer parte da Federação Russa, Alex Ellis, Embaixador do Reino Unido no Brasil, assina artigo sobre a crise na Ucrânia. Confira:
“A Ucrânia está a 10 mil quilômetros daqui, mas a situação na Crimeia afeta a todos nós. O Reino Unido e o Brasil têm forte interesse na defesa do Estado de Direito e do respeito pela integridade territorial. Ainda há tempo para se reduzir a tensão e criar um diálogo entre o governo legítimo da Ucrânia e a Rússia, mas esse tempo está se esgotando.
No domingo, a população da Crimeia terá de fazer uma escolha impossível: votar a favor de ser tomada pela Rússia ou por sua independência - sem qualquer garantia de que a Rússia mostraria mais respeito pela soberania de uma Crimeia independente do que tem pela integridade territorial de uma Ucrânia independente.
A votação, independentemente do resultado, é tanto ilegal quanto inconstitucional. E não há dúvidas quanto a isso. Os termos da constituição ucraniana não deixam margem para equívocos: uma votação só pode ser convocada a pedido de três milhões de cidadãos; um referendo deve ser estritamente ucraniano; e só pode ser convocado pelo Parlamento Ucraniano. Nenhuma dessas condições foi cumprida. A votação será ilegítima.
Essas questões deveriam ser resolvidas em referendos livres e justos – como será observado na Escócia ainda neste ano –, mas o referendo de domingo na Crimeia não será livre nem justo.
No decorrer das duas últimas décadas, temos procurado deixar de lado a tensão e a falta de confiança resultantes da Guerra Fria, reconhecendo a forte e positiva contribuição que a Rússia oferece à comunidade internacional - e à prosperidade de todos os povos.
Uma rede de acordos e instituições internacionais foi instituída tanto para ajudar a evitar a repetição de confrontos amargos do passado quanto para solucionar disputas de forma pacífica. A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e o Conselho da Europa, dos quais a Rússia é membro integrante, existem para ajudar Estados a tratar de questões de autodeterminação e defender os direitos das minorias. E o próprio presidente da OSCE (modelo de integridade eleitoral) declarou que o referendo seria ilegal. A organização não enviará observadores para a votação.
Ainda não é tarde demais para a Rússia usar essas instituições, engajar-se seriamente em diplomacia e encontrar uma solução pacífica.
Continuamos a exortar o presidente Putin de forma que ele use sua autoridade para o bem da Crimeia, Ucrânia, Europa e Rússia, e ponha fim a essa crise.
O referendo de domingo não terá qualquer efeito legal ou força moral, nem será reconhecido pela comunidade internacional que respeita a integridade territorial. O foco deveria ser em esforços diplomáticos para reduzir as tensões. Ainda há espaço para diálogo em vez do confronto. Mas não há muito tempo.”
Mais informações:
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