Reportagem do mundo

Presidente da COP26, Alok Sharma lança GFANZ no Brasil

Alok Sharma estimula instituições financeiras brasileiras a se juntar à GFANZ e estabelecer compromissos de descarbonização antes da COP27 em novembro.

Melanie Hopkins, Embaixadora interina e Alok Sharma, presidente da COP26

Em sua segunda visita ao país, o presidente da COP26, Alok Sharma recebeu gestores de sustentabilidade do setor financeiro e de empresas e representantes de estados e municípios para o lançamento da Aliança de Glasgow pela Descarbonização dos Serviços Financeiros – GFANZ no Brasil. O evento aconteceu em São Paulo e o Brasil foi o primeiro país da América Latina a lançar a Aliança.

Em agosto do ano passado, celebramos a adesão das primeiras cidades, estados e empresas brasileiras à iniciativa Race to Zero durante a primeria visita do presidente da COP26 ao Brasil. A caminho de Glasgow, 12 estados, mais de 40 cidades e 200 empresas passaram a integrar a campanha.

Agora, temos pela frente a tarefa chave da implementação, de traçar planos de ação e tirá-los do papel, transformando nossas economias e tornando concretas as oportunidades de crescimento nesse caminho. Devemos fortalecer essa comunidade de atores comprometidos com um futuro de zero emissões, tornando-a mais que a soma de suas partes e nos apoiar nessa rota.

O GFANZ é a maior coalizão financeira do mundo com objetivo de neutralizar as emissões do setor financeiro e facilitar a transição para uma economia de baixo carbono. A Aliança foi lançada mundialmente em abril do ano passado, na Cúpula do Dia da Terra do presidente Biden, e conta hoje com mais de 450 empresas de mais de 45 países com ativos combinados de mais de US$ 130 trilhões. No Brasil há 28 empresas de serviços financeiros membros do GFANZ, destas 5 são brasileiras e contam com aproximadamente US$ 300 bilhões de ativos sob gestão, representando por volta de 30% da indústria de fundos brasileira.

Segundo análises feitas pela aliança, serão necessários US$ 125 trilhões de investimentos para realizar a transformação econômica necessária para impedir danos ainda maiores decorrentes das mudanças climáticas. Nas próximas três décadas, US$ 32 trilhões deverão ser mobilizados globalmente, com US$ 700 bilhões sendo necessários especificamente no Brasil.

Durante o evento, Sharma incentivou que instituições financeiras do Brasil se comprometam com metas de redução. “No momento, a maioria das empresas na Aliança estão na Europa e América do Norte. Mas esta precisa ser uma Aliança verdadeiramente global se quisermos que a economia mundial se mova rumo a zero emissões e financie as mudanças que precisamos para construir resiliência e reverter mudanças climáticas catastróficas”. Por fim, Sharma também pediu que membros da Aliança se comprometessem em não investir em commodities que contribuem com o desmatamento. “Resolver o desmatamento é essencial para alcançar zero emissões. Atualmente, os incentivos financeiros são de 40 para 1 a favor da derrubada de uma árvore. Isso pode e deve mudar, e as instituições financeiras têm o poder de fazer isso ao não investir no desmatamento e sim em atividades benéficas às florestas”, afirmou.

O evento, que foi realizado de forma híbrida, contou com a presença da Encarregada de Negócios e Chefe da Missão Diplomática do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, e teve a participação online de Nigel Topping, Representante de Alto Nível para Ações Climática da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, e Alex Michie Chefe da Aliança de Glasgow para Descarbonização dos Serviços Financeiros – GFANZ.

A embaixadora interina Melanie Hopkins, que abriu o evento, disse estar satisfeita em saber que na sexta-feira passada, “o primeiro estado brasileiro a se comprometer a zerar suas emissões, Minas Gerais, lançou seus diálogos oficiais para entregar um plano de ação climática antes da COP27”. O estado está sendo apoiado pelo International Climate Fund UK Pact. “E outros nove estados aceitaram nossa oferta de trocar experiências com o Comitê de Mudança Climática do Reino Unido para a entrega de seus planos de ação climática.”

Nigel Topping enfatizou a crescente importância do engajamento com atores privados, como instituições financeiras e da sociedade civil, para o cumprimento das metas climáticas. “Glasgow foi a primeira COP em que esses atores não-estatais, que comandam a economia real, tiveram um papel central no processo”. Ele reforçou que o comprometimento dessas organizações é fundamental para alavancar a ambição no âmbito das políticas públicas. “Nós realmente precisamos da escala da indústria financeira para fazer essa realocação massiva de capital e reduzir emissões”.

Alex Michie, chefe do GFANZ, apontou que, apesar da presidência da COP26 pelo Reino Unido ter comprometido países responsáveis por 90% das emissões globais a tomarem medidas de descarbonização, muitas ações ainda poderiam ser tomadas na área privada. “No ano passado, percebemos que precisávamos de um fórum global que pudesse ter a adesão de todos para trabalhar pela agenda do clima, principalmente do setor financeiro.” Para isso, o engajamento das principais instituições era fundamental. “Queríamos a adesão dos bancos a um comprometimento pela descarbonização.” Michie acredita que a criação do GFANZ permitiu um espaço em que diferentes atores pudessem se mobilizar para acelerar a transição econômica no sentido de uma economia descarbonizada.

A soma do setor financeiro à comunidade do Race to Zero no Brasil fortalecerá a agenda de forma estratégica e nos ajudará a chegar à COP27 com avanços concretos na implementação dos compromissos.

Após o lançamento da Aliança, a Embaixada Britânica promoveu uma mesa-redonda com participação de membros da comunidade do Race to Zero no Brasil. Participaram, entre outros, o governador do Espírito Santo e presidente da Aliança dos Governadores pelo Clima Renato Casagrande, o presidente do Desenvolve SP Sergio Suchodolski, CEOs e líderes em sustentabilidade da Klabin, do Santander, da JGP, do IPC, entre outros representantes de instituições financeiras brasileiras e governos dos estados parceiros do Race to Zero.

A mesa-redonda apresentou a agentes do setor público e privado a oportunidade de dialogar sobre papel do financiamento no cumprimento das metas climáticas. Com a palavra, o governador Casagrande falou sobre o importante papel dos governos em mobilizar financiamento do setor privado, que é fundamental para o cumprimento das metas estabelecidas. Os convidados também falaram sobre as oportunidades que o financiamento climático proporciona para o crescimento econômico brasileiro e a importância da inclusão de temas como a justiça climática nos debates sobre financiamento do clima.

O evento foi uma parceria da Embaixada Britânica com Under2 Coalition, ICLEI , Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), C40, Pacto Global, Climate Champions (UNFCCC), CDP Latin America, Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI), Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Associação de Investidores no Mercado de Capitais (AMEC), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (Cnseg), Convergencia pelo Brasil, Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Investidores pelo Clima (IPC).

A Campanha Race to Zero

A campanha global da ONU reúne atores não-estatais de todo o mundo comprometidos com uma recuperação econômica verde, resiliente e sem carbono e em alcançar emissões líquidas zero até 2050. No Brasil, 12 estados, mais de 40 cidades e 200 empresas passaram a integrar a campanha. Para conferir a lista completa, acesse: https://climateaction.unfccc.int/views/cooperative-initiative-details.html

Se você não conseguiu assistir ao vivo, veja a gravação no link: bit.ly/GFANZ-R2Z

Fotos disponíveis no link: : bit.ly/GFANZ-R2Z-Ph (Crédito: Embaixada Britânica)

Publicado a 29 March 2022